Li há muito tempo uma frase afixada
em uma empresa que dizia: ”Aqui fazemos bons navios, com lucro se possível, mas
sempre bons navios”.
Essa frase nos remete ao velho
debate sobre a razoabilidade do lucro, assunto que já debati em alguns artigos,
contudo há outro tema pouco abordado nas empresas que é quem tem a precedência:
o lucro ou poder?
O objetivo único das empresas é o
lucro. Ninguém arriscará seu patrimônio se não tiver vantagens. Em tese.
Esse é o fator que mantém viva
uma empresa, portanto coloca de lado qualquer abordagem romântica sobre o
assunto. Prática.
Há, portanto, uma questão que
precisa ser resolvida em muitas empresas, principalmente familiares: O que
precede o quê, o lucro ou o poder?
Semanas após semanas, anos após
anos, vejo que a precedência do poder tem levado muitas empresas à bancarrota.
Para muitos gestores,
determinadas ações ou planos só podem ser implementados se lhes forem
atribuídos os louros ou se forem idéias suas. Fora isso barreiras enormes são
criadas, impedindo que as empresas se modernizem administrativamente, pagando
os colaboradores mais criativos caros pedágios para a permanência nessas organizações.
Dedicação ao trabalho para
superar dificuldades técnicas desgasta menos que trabalho duro para superar a
tolice e a estupidez!
O tributo da vida à tolice e a estupidez
no meio empresarial é o inferno da falência, muitas vezes precedida da viagem
ao purgatório da concordata.
Por que profissionais experientes,
sabendo que a empresa sem lucro pode naufragar, muitas vezes barram planos que
a colocaria numa situação mais confortável financeira ou administrativa?
Por que estes profissionais
arriscam o futuro das empresas e até seus cargos, mantendo-se inflexíveis
frente a situações com as quais não querem concordar, indo contra evidências?
Por uma série de razões, mas
principalmente, como dizia um velho amigo, pela síndrome de He-man.
Quem não ouviu a falar do famoso
personagem dos desenhos animados que dizia: “Eu tenho a força?”
Em nome do poder, a humanidade tem
sofrido e as empresas como células menores, por conseqüência, também.
Desastrosa, mas educativa, é a
história do império romano que serve como parâmetro para exemplificar o sucesso
e o fracasso.
Não foi o modelo de gestão Romana
que levou todo um império ao fracasso, mas o modelo de gestor.
A gestão pela força demanda que
se faça duas covas: uma para o gestor e outra para o objeto de sua gestão.
A gestão pela força não precisa
se caracterizar pela “gritaria e pancadaria”, pode se caracterizar pela frieza,
pelo silêncio, pela ignorância e pelo desprezo.
Há forma melhor para desmotivar um
profissional que o desprezo pelas suas idéias?
O combate a uma idéia é a melhor
forma de colocá-la em evidência, portanto a gestão pela força, a que combate
com o desinteresse e com o desprezo, costuma mais ser mais difícil de ser
rechaçada.
Dito desta forma, parece que
estou defendendo a construção da cartilha do mal, contudo são aspectos que todo
profissional um dia vivenciou , em maior ou menor grau.
Alguém é capaz de negar que o momento
político pelo qual passa nosso país tem muitos aspectos ligados à síndrome de
He-man?
Qualquer pessoa envolvida nos escândalos
não teria sido capaz de imaginar que um dia as falcatruas viriam à tona?
Certamente que sim, mas a ganância,
o desejo do poder as impediram de agir forma sensata.
“O poder sou eu” dá a dimensão de
um estado, de uma situação passageira. Pessoas com essa síndrome colocam-se na
posição de “Eu sou o Poder”, como algo definitivo.
Perdemos todos quando o poder
supera a razão.
Neste momento estamos mais
carentes de razão e sensibilidade do que de ordem e progresso.
Ivan Postigo
Economista, Bacharel em contabilidade, pós-graduado em
controladoria pela USP
Autor do livro: Por que não? Técnicas para estruturação de
carreira na área de vendas
Postigo Consultoria de Gestão Empresarial
Fones (11) 4496 9660 / (11) 99645 4652
Twitter: @ivanpostigo
Skype: ivan.postigo
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