segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Um corpo a procura de uma cabeça

Quando iniciei minha carreira me deparei com um jargão estúpido,  usado com frequência: “Você não é pago para pensar, faça o que eu estou mandando!”

Para quem ouve soa extremamente desagradável, quem emite esses ruídos acha estar produzindo uma pérola.

Essa afirmação dura o tempo do sucesso, no primeiro revés ouve-se o lamento: ninguém me ajuda a pensar!

Você pode estar se perguntando o que me fez lembrar esse tipo de comportamento.

Eu trabalho com organização, sistematização, equacionamento de questões que conduzem empresas à melhores resultados, para isso dependo do ato pensar.

Preciso de todas as informações que puder obter com meus esforços, de todos os colaboradores da empresa, e de nossa disposição para reflexão.  E como li certa vez: “de ruminar, até chegarmos a uma solução factível que nos leve ao sucesso”.

Quando me deparo com situações em que há o impedimento desse ato, fico assombrado.

Vi uma curta nota num jornal onde uma pessoa questionada sobre sua atuação respondeu: “Não sou paga para pensar”. Refletia sobre isso, quando me deparei com uma citação em um artigo sobre gestão empresarial que dizia que “devemos parar de contratar pessoas do pescoço para baixo, caso queiramos ter equipes capacitadas para tratar das complexas questões em que estão envolvidas as nossas empresas”.

Uma vez que contratemos uma pessoa do pescoço para baixo não vamos impedi-la de pensar, mas nada temos a contestar caso nos dê a resposta que tanto me chamou a atenção.

O mundo empresarial é atacado, de tempos em tempos, por ondas ou modelos de gestão, muitos dos quais são passageiros.

Mais do que uma forma de ganhar dinheiro, são ferramentas que nos ajudam a refletir, e uma vez implementadas a gerar resultados.

Raciocinemos tendo como exemplo a mais corriqueira de todas: a caixinha de sugestões.

Todos que trabalham ou trabalharam em uma empresa devem ter se deparado com um programa de melhorias com a caixinha de sugestões.

No lançamento fazemos discursos, as coletas dos bilhetes são diárias, entregamos brindes. Todos correm para colocar uma sugestão, qualquer que seja. Chegamos até fazer ato ecumênico. Contudo, uma sugestão dada no corredor, na mesa do refeitório, em um e-mail, nem sempre tem o mesmo valor daquela colocada na caixinha.  Mas, só no período em que esta fizer parte da onda.

Estive em muitas empresas onde me pediram para escrever procedimentos operacionais, como se estes fossem panacéias. Sempre tive o cuidado de verificar se já não o haviam feito em um passado recente, na maioria das vezes sim.

Encontrei manuais operacionais cuidadosamente elaborados, esquecidos e negligentemente empilhados. 

A sugestão de praticá-los nunca foi acatada, dado ao descrédito atribuído. Não por falhas nestes, mas por duas razões básicas: incapacidade de aprendizado e recusa na retenção das informações.
Quem estudar a história dessas empresas notará que há corpos demais e cabeças de menos.

Todos nós queremos fazer parte de um projeto vencedor, gostamos de opinar, ver nossas idéias sendo apreciadas, e claro, receber feedback, mesmo que nossas sugestões sejam recusadas. Quando isso não acontece, nos excluímos.

Os gestores, tomadores de decisões, precisam estar atentos e abertos para a dinâmica do processo participativo, caso contrário, quando os tempos difíceis vierem, eles vêm, queiram ou não, estarão com suas empresas acéfalas e terão sob sua responsabilidade um corpo a procura de uma cabeça.


Ivan Postigo
Economista, Bacharel em contabilidade, pós-graduado em controladoria pela USP
Autor do livro: Por que não? Técnicas para estruturação de carreira na área de vendas
Postigo Consultoria de Gestão Empresarial
Fones (11) 4496 9660 / (11) 99645 4652
Twitter: @ivanpostigo
Skype: ivan.postigo

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