Uma questão complexa em gestão empresarial é descobrir a
realidade. Outra é aceitá-la!
Pesquisas podem sofrer influências diversas, inclusive
interpretativas. Isso lhe parece estranho?
Vamos a uma pequena reflexão:
Você vai ao mercado e começa a coletar dados sobre seus
produtos, sobre concorrentes e expectativas dos consumidores. Reúne todos e
prepara um relatório.
Em seguida chama as equipes, apresenta o trabalho e pede
suas opiniões. Alguns podem considerar sua conclusão uma onda, enquanto outros
podem considerar uma tendência.
Uma visão diferente para uma mesma realidade.
Note que o automóvel foi considerado uma moda passageira,
uma onda. Na opinião daquele crítico, o cavalo
havia chegado para ficar, uma tendência.
Não foram poucas também as pessoas que criticaram a
televisão, considerada uma onda, acreditando que jamais substituiria o rádio,
uma tendência.
Um fator determinante para o sucesso é descobrir e encarar a
realidade, examinado os fatos e isentando-o dos sentimentos e do nosso próprio ego.
A compreensão e aceitação da realidade é a base para definição dos nossos
objetivos.
A realidade nos diz onde estamos, indica para onde poderemos
ir e o que é necessário para que cheguemos lá.
Vejo com freqüência diretores e gerentes tratando de
assuntos operacionais, sem se envolverem com a criação do futuro.
Produzem com isso um estado ocupacional de forma a dar
relevância ao dia, não observando essa realidade.
Convivi com um gestor que sempre se dizia ocupado demais,
então desenvolvemos ações para delegação, esvaziando suas atribuições.
Você pode me perguntar: - Demorou a acontecer, foi muito
difícil implementar as medidas?
Que nada, simples e rápido. Basta estabelecer o que é
realmente necessário, como será feito e delegar a quem tem competência.
Trabalha-se menos, produze-se mais e melhor.
Bom, mas qual o resultado disso?
Novas queixas, ouvi durante algum tempo: - Não sei o que
fazer com o tempo que você me arrumou!
Ok, agora sim, tínhamos uma realidade. Poderíamos debater o
futuro e verificar se a criação deste poderia e deveria ficar em suas mãos.
Claro que nas datas em que os orçamentos anuaís são
elaborados há reflexão sobre o destino dos negócios, mas este tempo não
ultrapassa três meses e o que é disponibilizado são projeções.
Grande parte destas se faz acrescentando um percentual de
crescimento sobre os resultados do ano anterior.
Havia um gestor que me dizia a cada solicitação de dados
para as peças orçamentárias:- Preciso de um tempo para sentar em frente a uma
parede branca para projetar.
Sempre soube que grandes pintores também fazem isso, mas com
todas as cores na mente.
Conheço empresas que todos os anos, nessa época, tiram das
gavetas projetos que lá estão há cinco, dez anos.
É fato indiscutível que não foram e não serão realizados. E,
ainda que aconteçam, temos que torcer muito pelo sucesso, pois estão defasados
demais.
Gestores têm dificuldades de parar e principalmente encarar
os fatos, com isso seguem em frente, enquanto puderem, até que num determinado
momento não existam mais opções.
Uma marca forte, reconhecida, com visibilidade, é
fundamental para qualquer produto, em qualquer mercado. Lembrando sempre que para
alguns produtos e mercados os consumidores são mais exigentes que outros.
Empresas lançam produtos e novas marcas, sem qualquer
comprometimento com sua propagação, para substituir ou complementar outros
negócios que não vêm dando certo. Continuarão não dando, essa é a realidade!
É verdade que gerar recursos para propaganda não é fácil, as
margens são sempre espremidas, por essa razão quem não dispõe de farto caixa tem
que pensar, estudar muito mais, colocar a inteligência a serviço da
organização, aplicando o pouco que tem de forma estratégica e consistente.
Não importa o negócio, o seu trailer ou barraquinha de
lanches terá que enfrentar uma organização que atravessou o oceano para fazer a
festa das crianças e adultos que passam às suas portas , quando as têm, todos
os dias, e que os atrai com sua marca e intensa divulgação.
Não importa se você usa os melhores pães do mundo e os
recheios mais saborosos.
A questão é simples: que leitura essas pessoas fazem disso?
Essa é a verdade da realidade.
A realidade nem sempre é como gostaríamos. Ela é como é.
O que vamos fazer com essa informação é que fará a
diferença.
Ao aceitá-la tomamos um choque de realidade que faz
despertar nossa consciência.
Há algum tempo apresentei uma proposta de trabalho detalhada
para uma empresa. Não desenvolvemos o projeto, uma vez que os gestores nos
disseram que haviam mudado os planos.
Algum tempo depois encontrei um funcionário que nos
acompanhou no levantamento das informações e nos disse que os gestores haviam
tentado implementar o plano por conta própria, evitando o investimento, mas que
não dera certo.
A verdade é que não haviam encarado a realidade, e sem o despertar
da consciência é pouco provável que o projeto tivesse realmente sucesso,
conduzido daquela forma.
Um colega de trabalho, no início da minha carreira, extremamente
competente, mas duro com as palavras, não fazia muito esforço para convencer as
pessoas de suas idéias, mas sempre encerrava os debates em que era vencido
dizendo: “A verdade da realidade é imutável, ainda que seja atacada pelos
maldosos e ridicularizada pelos ignorantes, lá está ela, majestosa”.
A construção do futuro, a superação das dificuldades,
inevitavelmente terá que passar pelo reconhecimento da verdade da realidade.
Ivan Postigo
Diretor de Gestão Empresarial
Postigo Consultoria Comunicação e Gestão
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