segunda-feira, 18 de abril de 2016

Lágrima divina

Imitamos Deus em todo seu poder quando um filho geramos. Um Deus que a presença queremos, o Deus que adoramos.

Um ato de amor ou de confusa relação, que nos torna pais. Das promessas de amor eterno ao encontro fortuito.

No ventre está a semente. O anel do universo que liga para a eternidade dois amantes ou dois errantes.

Filhos nascidos, às vezes amados, outras esquecidos. Cuidados ou abandonados. Um, dois, três, tantos!

Para muitos não importa o que tanto conta. Para outros, conta a conta!

Um momento vivido, apenas. Às vezes lembrados, mas não a vida esquecida.

Pequenos e carentes nascemos, em seio de mãe nos protegemos. Legítima ou adotada, colo que nos aquece, mãos que nos afagam.

Momentos em que não faltam amor e nem cuidados, aos filhos perdidos, uma vez encontrados.

Menino nascido, homem ferido, ser negligenciado.

Em um planeta maltratado estão abandonados os filhos dos filhos dos filhos de Deus.

Gerações e gerações que não cuidam da terra, tampouco da vida.

Com a negligência com o semelhante vem o esquecimento. Palavras caem em desuso.

Nas mídias, como recurso de venda, o amor é exaltado, na vida, o carinho, a atenção, a cortesia, a ternura, banidos.

O e-mail substituiu o abraço e o aperto de mão. A rede social o encontro festivo, o almoço com o colega, o café com o amigo.

O trabalho que construía, assumiu a sobrevivência.

Cercado por muros, os condomínios que protegem o homem dos semelhantes, afasta-o dos parecidos. Protegido, sente-se isolado e esquecido.

E o banco da praça?

Quando lá está é mal usado ou destruído. Amigos se foram, a amizade se perdeu. A saudade, palavra sem tradução como é o sentimento, é exaltada. Na música, na poesia, nos olhos dos velhos que viram os jovens partirem!

A velha amoreira, que tantas vidas e crianças à sua volta reunia, foi derrubada para construir mais um abrigo. Com conforto e luxo, mas com corações vazios.

Sem frutos e galhos para descanso cessou o pio e canto das aves. Não se ouve mais o melodioso e triste canto da patativa, que os quintais visitava.

É o progresso que gera lembranças de um tempo sem regresso.

No lago, produto das mãos do homem, a vida não encontra caminho e a piracema é só um fato, poucas vezes um ato.

A ecologia, ensinada às nossas crianças como verdade, carece do encontro com a realidade. Pés descalços sobre o solo macio, a brisa que sopra e carrega o cheiro das flores, a visão de uma abelha trabalhadeira, a verde grama que permite o descanso, a lata jogada, que maltrata a vista!

Retirá-la não é muito, mas somadas, pequenas ações, não é pouco. Em suas mãos está a consciência. Que retira ou arremessa.

A boa vontade e a responsabilidade tornam o feito, desfeito.

Se aos velhos não podemos ensinar, não percamos a oportunidade de fazê-lo com os jovens. Vivem no presente, mas o futuro será sua morada.

Eduque-se desde cedo, para que os vícios de casa a praça não alcancem, diriam saudosos avós!

Do espaço, o planeta azul se mostrará cinza sem cuidados.

Restará o azul nas fotos, nos filmes, e nas lembranças dos que viram e viveram.

Ainda que cinza, quem assim irá vê-lo?

Quem sabe muitos... talvez poucos.

Com um nó na garganta, saudoso, vendo-o, como casas abandonadas nas velhas cidades, diz o pai: - Foi azul e ali vivíamos.

Pergunta o pequeno filho de Deus: - Por que mudamos, se a saudade incomoda?

Com olhar triste e voz embargada responderá: - Não cuidamos. Ficou velho e está sujo.

No espaço, sem gravidade, paira uma gota.

Divina...

Uma lágrima de Deus!

Ivan Postigo
Diretor de Gestão Empresarial
Postigo Consultoria Comunicação e Gestão
Fones (11) 4496 9660 / (11) 99645 4652
Twitter: @ivanpostigo

Skype: ivan.postigo

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